segunda-feira, 21 de setembro de 2009

OUTRAS PALAVRAS SOBRE O IGC (encaminhado em 12/09/2009)

Caros colegas,

Retomo ainda a discussão sobre o IGC. É óbvio que a graduação é importante, tanto que ela induz os nossos indicadores para baixo. Alguém acredita que institucionalmente levamos as avaliações de cursos de graduação (todos nós, incluindo alunos e coordenadores de curso) com a mesma atenção do que nos cursos de PG? Em geral, essas avaliações são ignoradas sob o argumento de que o que conta é a nossa opinião subjetiva sobre nós mesmos.

Pois é, aparentemente, a graduação não é levada a sério, pois os indicadores são sempre apresentados como um complô maléfico do MEC para derrubar nossos cursos de qualidade indiscutível. Ou então a culpa é dos alunos de graduação que boicotam o ENADE. E a infra-estrutura? E o percentual de professores em regime de DE? E o percentual de doutores? Qual é a tendência das últimas contratações de docentes no âmbito do REUNI? Qual foi a legislação da UFF, apoiada pela PROAC, que permitiu transformar a pontuação dos substitutos no Banco de Docentes em contratações efetivas na UFF? Quantos professores no regime de 20 horas foram contratados nos últimos 2 anos dentro desse processo?

Podemos e devemos criticar metodologias, visando o seu aperfeiçoamento. Contudo, creio que é melhor alguma avaliação do que avaliação nenhuma. Com essas avaliações temos que "mostrar a cara" para a sociedade e fornecer explicações, caso elas existam. O fato é que não há no país uma tradição de se avaliar atividades ligadas à graduação. E, normalmente, docentes que não têm nenhum vínculo formal com pesquisa e pós-graduação buscam, por exclusão, se apresentar como os principais “especialistas” em graduação (já que não fazem mais nada além de ministrar cursos na graduação). Grande engano.

Insisto no fato do percentual de docentes com doutorado e percentual de docentes em regime de DE e a avaliação da infra-estrutura pesarem quase o mesmo do que as notas do ENADE. Insisto também no fato de universidades federais com dimensões semelhantes terem desempenho muito melhor do que a UFF nessa avaliação. Para uma análise real do desempenho da UFF, temos que "abrir" os números do IGC, curso a curso. Acho curioso alguém comentar esses indicadores sem se dar ao trabalho de ler a metodologia adotada. Até para criticar é necessário um mínimo de base científica.

O mais engraçado é que eu, sendo conhecido há anos como um crítico contumaz de alguns critérios adotados pelo MEC, seja para avaliação de cursos de graduação seja para a avaliação de cursos de pós-graduação, tenha que defender a necessidade de que alguma avaliação exista.

Por pior que seja a metodologia, quando comparamos avaliações de instituições de porte semelhante, sempre podemos concluir alguma coisa. E não estou falando dos tolos “rankings” de instituições nacionais apresentados na imprensa. Reduzir a discussão a uma simples querela entre graduação e pós-graduação também é um equívoco que só facilita as manipulações. O único fato objetivo é que a produção científica da UFF e os seus programas de pós-graduação, por estarem submetidos a um sistema de avaliação já bem consolidado, têm apresentado, em comparação com outras instituições semelhantes, desempenho muito mais vigoroso do que os cursos de graduação. Isso é evidente pela menção em destaque na página da UFF à boa classificação no "Webometrics Ranking of World Universities" (que mede produção científica) e a omissão em relação à péssima classificação no IGC.

A tomada de decisões em relação à política acadêmica deve se basear, também, em indicadores objetivos e não pode ser limitada às circunstâncias imediatas da política institucional. Aparentemente, todos concordamos que a avaliação reflete a nossa realidade em termos de pesquisa e de pós-graduação. Todos concordamos que a avaliação dos cursos de graduação não reflete a nossa realidade. Todos concordamos que, além de outros indicadores, a nota do ENADE afeta negativamente o nosso desempenho no IGC. Todos concordamos que isso se deve a boicote de alunos e/ou ao pouco caso com que esse exame é tratado pelos alunos.

Disso, podemos extrair algumas conclusões. Outras instituições de porte semelhante à UFF passam pelo mesmo problema que nós (boicote dos alunos), mas estão lidando bem melhor com essa questão, pois têm avaliações melhores do que as nossas. Podemos ter duas alternativas, que não são excludentes: (i) Os alunos estão boicotando o ENADE, pois estão sendo pressionados a não participar do exame ou a entregar provas em branco por um grupo pequeno, mas agressivo, que os intimida, muitas vezes fisicamente. Se isso for verdade, estaremos sendo fracos na defesa da nossa maior conquista, que é a Democracia Universitária. Ser omisso em relação a esse tipo de comportamento seria equivalente a olhar o “ovo da serpente” sem nada fazer ou reagir. Sabemos onde isso poderia nos levar. Ser leniente com esses alunos “porque eles votam” seria o máximo da irresponsabilidade. (ii) Os alunos não estão sendo pressionados, mas estão sendo realmente convencidos de que a melhor atitude política seria o boicote ao ENADE. Nesse caso, estaríamos perdendo a disputa política/ideológica, mesmo tendo contato com esses alunos ao longo de todos os anos que eles passam na Universidade. Propor o boicote é uma atitude politicamente legítima (apesar de completamente equivocada). Nós é que estaríamos perdendo corações e mentes nesse processo.

Qualquer que seja a alternativa, ela mostra que não estamos tratando institucionalmente a questão com a importância que ela merece. É essa a grande questão: não estamos levando em conta alguns dados óbvios e significativos na implementação de políticas institucionais para a graduação (e para a universidade). Quantos de nós já levou esse debate para as salas de aula? Quantos de nós buscou levar esse debate para os diferentes fóruns democráticos? Quantos de nós pediu para que os dados referentes ao IGC fossem abertos curso a curso? A impressão que tenho é a discussão sobre esse assunto é vista por muitos como uma impertinência, pois põe em cheque cômodas “verdades” já estabelecidas e é vista como um certo desrespeito às autoridades constituídas. A discussão cordial e a crítica serena não deveriam ser tratadas com toda essa reserva, já que, aparentemente, ninguém reivindica o dogma da infalibilidade de nossas políticas institucionais e/ou de nossos dirigentes.


Saudações acadêmicas
Heraldo

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