segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Mensagem encaminhada pelo Professor Emanuel (Vice-Reitor da UFF) como resposta ao texto O OUTONO DO PATRIARCA, encaminhado por mim à lista de e-mails usada para algumas de minhas comunicações

"Prezado colega Heraldo,

Peço que você publique esse meu comentário-resposta para o mesmo universo de pessoas que receberam a sua comunicação inicial. Isso é um princípio da democracia que julgo importante e que tenho certeza que compartilhamos.
Quero me solidarizar inteiramente com a sua postulação. Podemos ter todas as divergências em questões substantivas mas não tenho nenhuma dúvida em afirmar que estamos entre os que almejam e lutam por uma universidade pública de qualidade, competente e capaz de levar a bom termo a missão constitucional de fazer com autonomia e de forma indissociável o ensino, a pesquisa e a extensão no nosso país.

Desde que recebi há dois dias atrás o informe do INEP acerca do IGC que me preparava para fazer a avaliação que você tão bem fez, antecipando questões que precisam ser objeto de análise cuidadosa das instâncias responsáveis por políticas institucionais na nossa universidade, quais sejam o Conselho Universitário, Conselho de Ensino e Pesquisa e o Conselho de Curadores. Precisamos abandonar a prática de querer transformar tudo em mera peça de campanha, divulgando o que interessa e não se manifestando sobre o que obriga a reflexões. Foi assim que aconteceu com o resultado do "Webometrics Ranking of World Universities", que por colocar a UFF em 23o. lugar no ranking da América Latina mereceu destaque na nossa página institucional, diferentemente do que aconteceu com a publicação do IGC que coloca a UFF com o mais baixo índice entre as universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro e por essa razão não é sequer divulgado.

A Universidade deve ser o lugar por excelência das conversações tecno-politicas, científicas e culturais e, por essa razão, vejo com bons olhos todos os que não temem o debate, como é o seu caso. Expor-se é o método da ciência, ao contrário do esconder-se que é o método da baixa-política que leva a escândalos e atos secretos como o que vive atualmente a mais alta instância política do nosso país, o Senado Federal.

Estamos vivendo neste exato momento uma situação absolutamente esdrúxula em torno da tentativa da cúpula dirigente da universidade (da qual estou fora, mesmo sendo, infelizmente, o Vice-Reitor de um Reitor autoritário e anti-democrático com o qual não compactuo definitivamente há um bom tempo) de escamotear, procrastinar ou descumprir a decisão já tomada pelo Conselho Universitário de realizar um plebiscito sobre a questão dos cursos pagos na universidade.
O método do autoritarismo é sempre o mesmo: ao invés do debate, as manobras procrastinatórias e regimentais que operam no sentido de impedir que a universidade fale, se manifeste, se expresse. Recentemente escrevi no meu blog (http://blog-do-emmanuel.blogspot.cm) um artigo intitulado “Quem tem medo de Virginia Wolf?” onde procuro refletir porque que os reacionários têm tanto medo do debate, preferindo a fraude ao enfrentamento. Curioso é que este não parece ser o comportamento dos meus colegas professores que coordenam cursos pagos na universidade e preferem debater abertamente com a comunidade acerca da relevância social e estratégica do que fazem do que serem prisioneiros dos “falsos protetores” que criam de um lado dificuldades para venderem de outro, as facilidades.

Recentemente comentei em um e-mail restrito aos que trabalham no meu Gabinete, mas que acabou vazando pra boa parte da UFF, sobre um processo de “sucupirização” da nossa universidade, numa referência à saudosa criatividade de Dias Gomes que retratou tão bem a baixa política no nosso país através da novela “O Bem Amado”, projetando a triste figura de um Odorico Paraguaçu, cuja única finalidade como dirigente máximo da cidade de Sucupira, na sua política de resultados, era encontrar um “morto” pra poder inaugurar o cemitério que se tornara a sua obra de maior relevância.
Vivemos situação não muito diferente na nossa universidade. O REUNI trouxe uma quantidade de recursos de toda ordem para a universidade, incluindo recursos de capital para a construção de prédios e reformas, recursos de pessoal, com a contratação de centenas de professores e técnicos, e recursos para organização da gestão, com CDs e FGs que estão sendo distribuídos fartamente segundo uma lógica meramente eleitoreira (evidentemente que toda lógica eleitoreira procura também fazer algumas coisas acertadas, até mesmo pra justificar a sua verdadeira intenção eleitoreira). Alguns colegas com quem tenho comentado essas questões levantam sua preocupação no sentido de que tomara que o “morto” almejado pelo neo-Odorico não seja a própria UFF.

Apenas pra se ter uma idéia do que estou falando, há pouco tempo atrás o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, exibindo resultados e metas físicas invejáveis, inclusive aprovadas na prestação de contas de 2008 da universidade, foi afastado de suas funções numa jogada absolutamente micro-geo-política. A violência do ato foi encoberta entretanto com um convite para que o ex-Pró-Reitor se tornasse assessor do reitor com direito a gratificação compensatória. Agora aconteceu a mesma coisa no caso do Pólo de Volta Redonda. O ex-Diretor, com resultados considerados altamente satisfatórios do ponto de vista operacional, mas envolvido em disputas políticas locais, é substituído por um interventor de fora de Volta Redonda (como você muito bem registra na sua carta) mas, para deter a indignação que tal ato arbitrário poderia provocar, o diretor afastado é convidado a ser “assessor” do Reitor. Nada mais provinciano, fisiológico e desonesto do ponto de vista da lógica acadêmica.

Enfim, prezado Heraldo, estou plenamente de acordo com você quando diz que “diferenças políticas entre grupos numa universidade existem, são legítimas e normais. Numa universidade democrática, essas diferenças são resolvidas no voto”. Também eu penso assim e propugno não apenas eleições diretas já no Pólo de Volta Redonda como também no de Rio das Ostras, de Friburgo e de Campos. O maior disparate que já ouvi de um dirigente universitário foi quando o reitor da UFF, numa reunião com dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da UFF, afirmou que não fazia eleição em Volta Redonda porque lá nem todos podiam votar então ele votava por todos. Definitivamente, não quero esta UFF e para evitarmos a dolorosa vivência do outono do patriarca proponho que lutemos pela primavera da liberdade.
Saudações acadêmicas,

Emmanuel"

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