segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O IGC E O OUTONO (encaminhado em 04/09/2009)

“A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.”
Ricardo Reis, 1-7-1916

Caros colegas, eu havia decidido ficar um bom tempo sem me manifestar publicamente em relação a assuntos da UFF. Contudo, fatos recentes me convenceram a retomar a nossa saudável corrente de discussão.

Muitos me perguntam porque eu estou adotando um estilo eventualmente hermético e metafórico em algumas das minhas mensagens, parecendo um daqueles filmes antigos do Carlos Saura – difíceis de entender devido a uma linguagem muito cifrada. Eu explico - assim como o famoso diretor espanhol, sei que em rio que tem piranha, jacaré nada de costas. Meus motivos são parecidos com os dele, é claro.

O IGC 2008

Recentemente foi divulgado pelo MEC o Índice Geral de Cursos da Instituição (IGC) referente ao ano de 2008. Já comentei bastante sobre este índice no ano passado e, caso haja interesse, posso enviar por e-mail a quem solicitar o material em minhas mãos (metodologia, dados estatísticos , etc.). Basicamente o IGC é um indicador para avaliação de instituições de educação superior que considera, em sua composição, a qualidade dos cursos de graduação e de pós-graduação (mestrado e doutorado). No que se refere à graduação, é utilizado o CPC (conceito preliminar de curso) que leva em consideração, além de resultados de avaliação de desempenho de estudantes, infra-estrutura e instalações, recursos didático-pedagógicos e corpo docente. No que se refere à pós-graduação, é utilizado o conceito dos cursos na CAPES. O resultado final está em valores contínuos (que vão de 0 a 500) e em faixas (de 1 a 5).
O IGC da UFF foi de 306 em 2007 e de 308 pontos em 2008, sendo a universidade pública com o IGC mais baixo no Estado do Rio de Janeiro.

Algumas observações:

(1) a avaliação da UFF, como no ano passado, foi excelente para os cursos de Pós-graduação e ruim para os cursos de graduação, que puxaram a média para baixo. A evolução crescente da pesquisa e pós-graduação na UFF é mais facilmente verificada quando olhamos o "Webometrics Ranking of World Universities" no qual ficamos em 23o lugar na América latina. No IGC, somos a 41a universidade no Brasil. No ano passado, se o conceito Médio da Graduação fosse 3,5 em 5 no lugar de 2,51 a UFF ficaria em primeiro lugar no estado do Rio de Janeiro entre as universidades públicas. Como a nota 2,51 não reflete a qualidade real dos nossos cursos de graduação, a média vai para baixo.

(2) É bastante claro que o IGC só é adequado para comparar instituições de porte semelhante, já que não leva em conta a quantidade de alunos (apenas as médias são consideradas) e tende a favorecer as estruturas menores, com menos cursos e, portanto, mais “enxutas”. Também é claro que as avaliações dos cursos de graduação são problemáticas, principalmente nas universidades com muitos cursos, devido a boicote de alunos.

(3) Contudo, nada disso explica porque na graduação a UFF ficou tão atrás de tantas universidades federais de porte semelhante (UFMG, UFRGS, UFRJ), todas com o mesmo problema de boicote de alunos. A explicação, caso exista, é complexa. Contudo, não creio que o principal problema esteja exclusivamente nos alunos de graduação. Apresento uma informação para que cada membro da comunidade da UFF possa montar o seu quebra-cabeças: TODOS os dirigentes dessas universidades mais bem avaliadas deram a mesma explicação para uma das chaves para o seu relativo sucesso – qualidade do corpo docente com maioria de doutores em regime de DE, fazendo a justa ligação entre pesquisa e pós-graduação com a graduação. A composição do corpo docente de uma IFES tem peso expressivo nas avaliações de cursos, seja na graduação seja na pós-graduação e tem, também, peso expressivo na determinação do seu orçamento. Num momento de expansão da UFF, com um aumento muito expresivo das contratações de docentes, temos que observar as políticas de contratação das universidades mais bem avaliadas e refletir sobre esse assunto.

O OUTONO DO PATRIARCA

Recentemente fui informado de que teria havido a substituição do Diretor do Pólo de Volta Redonda. Seria um fato relativamente dentro da normalidade que, contudo, me chamou a atenção devido a forma como a substituição foi anunciada publicamente. O novo diretor teria sido anunciado como uma “pessoa jurídica” que estaria ocupando a função não pelos méritos própios mas como um interventor representante da Escola de Engenharia de Niterói no Pólo. Essa intervenção objetivaria “unir” grupos políticos com opiniões divergentes sobre a administração do pólo. A intervenção de uma Unidade de Niterói num Pólo do interior é fato muito inusitado. Mais ainda porque não reflete a opinião dos docentes da Escola de Engenharia de Niterói. Se foi verdade a informação passada para mim, alguém usou o nosso (da Escola de Engenharia) nome em vão.

Não sei porque, ao saber desse fato, me lembrei do senador José Sarney e de um artigo sobre ele na Folha de São Paulo intitulado “O Outono do Patriarca” (título de um livro do Gabriel Garcia Marques sobre a decadência de um cacique político). O artigo diz: “Na solidão do poder, Sarney vive seu outono do patriarca ... mergulhou no vício solitário do poder e vive o autêntico outono do patriarca. ...” . O Senador Sarney, com uma biografia indubitavelmente rica, ao iniciar um claro processo de decadência política no Maranhão, buscou sobrevida política aceitando se submeter politicamente ao senador Renan Calheiros, atropelando muitos aliados para se firmar como Presidente do Senado. Resultado – uma das maiores crises políticas dos últimos anos no Congresso Nacional.

Diferenças políticas entre grupos numa universidade existem, são legítimas e normais. Numa universidade democrática, essas diferenças são resolvidas no voto. Para mim é inacreditável que num pólo com tantos cursos (graduação e pós-graduação) e tantos docentes, não haja ninguém competente o suficiente para geri-lo de forma eficiente. Aparentemente o Colegiado do PUVR votou uma moção a favor de uma consulta eleitoral para a sua Direção, aprovada por unanimidade. Vamos ver onde isso vai parar. Aguardo um posicionamento do CUV. Eleições diretas no PUVR e nos demais pólos!

Saudações acadêmicas,
Heraldo

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