quinta-feira, 13 de maio de 2010

UM

CHAPA UM - PALHARINI E BRUNO. Como já é tradição, torno público o meu voto na consulta eleitoral para reitor e vice-reitor na UFF. Imagino que minha opção já estivesse clara para os que tiveram paciência de ler as minhas mensagens. Contudo, acreditem, meu posicionamento foi fruto de um processo bastante intenso e demorado de reflexão. Sem nenhuma ingenuidade e sem buscar nutrir falsas expectativas de mudanças extraordinárias, creio que é a chapa com maior disposição para quebrar velhos paradigmas na busca de um sistema de gestão mais moderno, eficiente e transparente. Sistema criado pela necessidade e não pelo fato dos envolvidos serem seres humanos melhores ou mais iluminados.

Já escrevi antes que a universidade praticamente avança em modo automático, graças aos seus grupos de pesquisadores, programas, departamentos, etc. Basta o reitor não atrapalhar muito. Recentemente divulguei o texto MINIMUM MINIMORUM, apresentando o que para mim seria o piso mínimo para apoiar algum candidato: (i) UMA POLÍTICA ORÇAMENTÁRIA DEMOCRÁTICA; (ii) UMA POLÍTICA TRANSPARENTE PARA ALOCAÇÃO DE VAGAS E CONTRATAÇÕES; (iii) CONSULTAS DIRETAS PARA DIREÇÕES EM TODOS OS NÍVEIS COM O FIM DAS NOMEAÇÕES "PRO TEMPORE" QUE SE TORNARAM PERMANENTES E (IV) A INDISSOCIABILIDADE DA BUSCA DA QUALIDADE COM A DEMOCRACIA UNIVERSITÁRIA. A chapa dois, a meu ver, pela gestão atual e pelo que promete no futuro, não atende e nem vai atender a essas condições mínimas apresentadas.

Na última eleição para reitor na UFF, em 2006, escrevi o texto UNIVERSIDADE PARTIDA, no qual informava:

"Há quatro anos atrás não apoiei a reeleição do professor Cícero Mauro Fialho Rodrigues. Sem absolutamente nenhuma crítica relevante de cunho pessoal a ele e ao seu vice, professor Antonio José dos Santos Peçanha. Minha posição era justificada por duas questões básicas de princípio:

1) Ser contrário à possibilidade de reeleição para reitores de universidades;

2) A necessidade de romper na UFF uma tradição pouco democrática de compartilhamento do poder (tradição, aliás, verificada num número expressivo de IFES).

Apesar de a UFF estar passando por um processo de afirmação e modernização que é irreversível, este processo poderia (e ainda pode) ser mais rápido ou mais lento, dependendo das circunstâncias. "

Nessa eleição, mantenho a mesma posição manifestada publicamente nos últimos oito anos - continuo contrário a possibilidade de reeleição para reitores e vendo a necessidade de ampliar a transparência e a democracia universitárias. Contudo, no caso atual, tenho também críticas relevantes à administração que busca a sua continuidade através da chapa 2, com a reeleição do reitor.

O candidato a reitor pela chapa 2 teve chance de mostrar ao que veio na atual gestão. Falhou. Do ponto de vista da Administração Central, erros imperdoáveis foram e estão sendo cometidos. Errou na definição de prioridades; equivocou-se na gestão; adotou uma política orçamentária opaca; aumentou a burocracia interna; exorbitou na nomeação "pro tempore" de diretores de pólos e de unidades isoladas no interior; tratou desnecessariamente adversários políticos como inimigos. Na sua gestão houve um retrocesso nos critérios de alocação de vagas e contratações e, também, foram sistematicamente afrouxados critérios de qualidade já consolidados no CEP (exigência de titulação, priorizar contratações em regime de DE, etc.). Salvou-se pelo gongo com o Reuni, apesar de ter feito muito pouco com os mais de 120 milhões de reais transferidos para a UFF e ao seu dispor. Agora informa de que tudo o que não foi feito será realizado, desde que o reelejam.

Ele e seus estrategistas cometeram erros políticos imperdoáveis. Foram desastrosas as intervenções em Volta Redonda e em Friburgo. Também desastroso foi, mesmo tendo maioria no CUV, deixar passar de forma enviesada um plebiscito sobre os cursos pagos com a pergunta mais maniqueísta possível - é sim ou é não - quase na mesma época da consulta para reitor. Com o plebiscito, induziram a mobilização dos grupos e partidos favoráveis à total proibição dessas atividades. Para mim deram a impressão de querer intencionalmente amedrontar a todos os de alguma forma ligados a esses cursos pagos, para posteriormente se apresentar como a última esperança sobre a face da terra - os "salvadores dos empreendedores". Ganhar votos aos borbotões. Aparentemente, acreditam ter o poder de deixar iniciar um processo dessa magnitude, controlá-lo e posteriormente suspendê-lo após tirar disso o maior proveito eleitoral possível. Pura ilusão. Seja essa minha impressão verdadeira ou não, como resultado, assim como no caso da intervenção nos pólos, teremos mais uma crise institucional, previsível e anunciada.

Um fato notável é que a chapa dois vem conseguindo realizar uma proeza: reunir alguns dos melhores quadros da UFF (professores e funcionários), em minoria, com o que de mais atrasado pode haver do ponto de vista acadêmico numa universidade pública. Soma cuja resultante política é menor do que zero, é claro. Minoria que acredita, apesar da experiência dos últimos três anos, que cada pró-reitoria acadêmica (PROPP, PROAC, PROEX) possa ter vida própria independente de todo o sistema universitário. Na prática, a universidade é dividida em partes, como um salame, com fatias distribuídas para os subgrupos de poder que se desprezam dois a dois e que vivem na ilusão de não ser contaminados pelas ações uns dos outros. A única condição é não ver, não ouvir e não falar nada que esteja relacionado com o que os outros estão fazendo com suas fatias do salame.

Alguns dos que, por algum motivo, aparentemente já manifestaram o seu voto pela chapa 2 são pessoas com as quais me relaciono bem do ponto de vista pessoal e que considero meus pares. Dirijo-me especialmente a cada um desses colegas: Pense um pouco mais nas possíveis conseqüências do seu voto. Quem sabe, no escurinho da urna as idéias clareiem, o coração bata mais forte, a mão trema e, num impulso, você crave na cédula: UM.

Conclamo todos a participar conscientemente dessa consulta eleitoral. Apesar de falhas no sistema, ainda não inventaram nada melhor do que a consulta direta para aferir os desejos de uma comunidade. Mas lembrem-se: na política, diferente do que acontece na matemática, UM pode ser muito mais do que dois. Peço aos colegas ainda em dúvida em relação ao seu voto que reflitam sobre isso.

Saudações acadêmicas
Heraldo

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